Quando você está se matando em uma partida deathmatch contra um clã russo de Combat Arms e, em um momento decisivo da partida, aquele pequeno lag acaba atrapalhando a sua vitória, você já sabe qual deve ser o próximo passo: xingar, gritar e praguejar loucamente contra o mundo da internet e essa maldita conexão.
Contudo, às vezes também é bom pensarmos em como a união entre os mundos real e virtual é incrível. Sim, pois é graças às enormes estruturas de comunicação criadas mundo afora que você consegue disputar essas partidas, conversar com seus amigos no Japão ou negociar produtos com aquela empresa norte-americana.
E, ao contrário do que muita gente imagina, as informações da internet não são transmitidas somente por satélites que orbitam a Terra, mas por uma gigantesca rede de backbones submarinos que cruza os oceanos de nosso planeta.
As autoestradas da internet
Antes de entender como funcionam os cabos transoceânicos é preciso saber o que são os backbones. Trocando em miúdos (e utilizando o significado da palavra em inglês), podemos dizer que eles são a espinha dorsal de praticamente todas as trocas de informações dentro do mundo virtual.
Quando você envia uma mensagem para algum amigo seu, por exemplo, esta sai do seu computador, passa pelo modem e é entregue ao seu provedor de internet. Em seguida, essa empresa “despeja” os dados em uma rede de conexões capaz de levar tudo isso até um backbone.
Este, por sua vez, funciona como uma estrada principal, uma grande avenida de fibra óptica, que trabalha levando as informações de forma rápida até uma nova rede de dados – fazendo, assim, com que a sua mensagem chegue ao destino da forma mais veloz possível. Se quiser saber mais, acesse o nosso artigo “O que é backbone?” para encontrar mais detalhes.
Conexão ultrarrápida
Hoje em dia os backbones não só cruzam vários países, como também interligam seis dos sete continentes da Terra – somente a Antártica ainda não conta com uma ligação do tipo. Esses cabos atravessam os mares de todo o planeta e fazem com que a troca de informações entre os mais longínquos países seja rápida e (quase sempre) eficiente.
São milhares de quilômetros de fibra óptica – que respondem por cerca de 99% das conexões do nosso planeta. Estes cabos submarinos contam com uma capacidade total de troca de dados tão incrível que, se utilizada de uma vez só, já ultrapassaria os 7 terabytes por segundo.
Com isso, é possível percebermos que somente 1% da internet é coberta pelos satélites, uma vez que eles apresentam uma conexão bem mais lenta. Dessa forma, eles acabam trabalhando somente como uma espécie de “plano B”, uma garantia para o caso de algum acidente com os cabos acontecer.
Graças a essa eficiência, os backbones marinhos crescem cada vez mais. Atualmente, o maior cabo de todos é o SeaMeWe 3. Ele conecta nada menos do que 32 países, saindo da Alemanha e chegando até a cidade de Keoje, na Coreia do Sul. No total, o cabo tem aproximadamente 39 mil quilômetros de comprimento e cerca de 40 pontos diferentes de conexão.
Apesar de enorme, este é só mais um dentro do grande universo de backbones submarinos espalhados pelo planeta Terra. Hoje, pode-se dizer que existem cerca de 190 cabos deste tipo em operação (ou sendo construídos) no fundo dos nossos oceanos.
Do que são feitos?
Quando falamos que os backbones submarinos trazem uma conexão ultrarrápida graças à fibra óptica, é necessário analisarmos também toda a tecnologia que envolve tais equipamentos. Isso porque eles devem apresentar estabilidade, rapidez e segurança em cada parte dessas gigantescas linhas de conexão.
É aí que a construção dos cabos entra em jogo. Os utilizados atualmente apresentam cerca de 7 centímetros de diâmetro e vários tipos de escudos. Assim, se você puder “descascar” um destes cabos, encontrará nada menos do que oito camadas dos mais diferentes materiais.
Olhando-os de fora para dentro, você pode encontrar uma primeira camada de polietileno, produto que serve como uma espécie de casca, uma grande proteção para todo o “recheio” que vem a seguir.
A camada número dois é feita de um material chamado Mylar, um filme de proteção extremamente resistente e muito utilizado em conexões eletrônicas, como em áudio e vídeo. Já na terceira há fios de aço trançados, algo que permite uma mobilidade firme e segura para os cabos.
Partindo para a quarta camada você pode encontrar um tipo de alumínio que protege as fibras ópticas da água. Na camada seguinte, a quinta, há o policarbonato, material que também trabalha como um isolante para evitar que a água penetre o backbone.
Na sexta parte da construção destes cabos existe uma espécie de invólucro, um tubo de cobre (ou alumínio) que dá firmeza e solidez ao backbone. Já na penúltima camada há pasta de petróleo, algo que conserva e dá certo “conforto” à oitava e principal parte do cabeamento: a fibra óptica.
Tudo isso faz com que apenas 1 metro destes backbones chegue a pesar impressionantes 10 quilos. E, como dito acima, apesar de tanta proteção, ainda podem ocorrer acidentes. Recentemente, boa parte do continente africano ficou sem internet após um navio descer a sua âncora bem em cima de um backbone submarino, por exemplo.
Além disso, movimentações imprevisíveis do solo e interferências de animais, como mordidas de tubarões e outros peixes agressivos, podem fazer com que a transmissão sofra problemas, exigindo que as empresas tenham que realizar consertos emergenciais.
Por isso, os backbones contam com outras partes essenciais para o seu funcionamento, como sensores de atividade e retransmissores de sinal. Enquanto os primeiros ajudam os técnicos a perceberem se está tudo em ordem, os segundos fazem com que a “força” do envio de dados ganhe um novo embalo até que as enormes distâncias sejam percorridas. Dessa forma, a cada 100 quilômetros de cabos (em média), há um ponto de retransmissão para dar esse empurrãozinho às informações.
Como são instalados?
A instalação dos backbones submarinos é feita de maneira diferenciada. Obviamente, o contato humano é bastante limitado devido às dificuldades que o ambiente oferece. Por isso, a primeira etapa do trabalho é realizar uma cuidadosa avaliação dos locais que receberão os cabos. O caminho deve ser o mais plano possível, não contando com fendas, oscilações de terreno ou possibilidades de tremores que possam influenciar de maneira negativa na qualidade do sinal.
Trajeto estudado, o próximo passo é partir para a instalação dos backbones. Tudo acontece basicamente em duas frentes distintas. Enquanto um navio especializado navega vagarosamente despejando os metros de cabos, um robô-submarino os posiciona no leito dos mares, realizando uma pequena escavação e os instalando em uma espécie de trilha.
Bônus: mais de 100 anos cruzando os mares da Terra
Apesar de toda a tecnologia envolvida nesse tipo de conexão, saiba que os primeiros cabos submarinos foram instalados há mais de 150 anos. Os primeiros surgiram ainda no século XIX e constituíam uma enorme malha de cabos de cobre que ligava os Estados Unidos e vários países europeus, conectando-os para que mensagens de telégrafo fossem enviadas.
Além disso, o Brasil também não ficava para trás e contava com alguns cabos submarinos. Em 1875, por exemplo, já havia uma rede que cobria várias cidades das regiões nordeste e sudeste, além de uma impressionante conexão com mais 8 mil quilômetros que ligava a cidade de Recife até uma estação de transmissão em Portugal.
Contudo, apesar dessa já razoável estrutura, no século XX tudo evoluiu de forma diferente, pois era preciso atender o crescimento do mercado de telefonia. Isso porque esse “novo” ramo não explorava tanto esse tipo de conexão, pois, neste caso, os satélites sempre se mostraram bastante eficientes.
Todavia, com a explosão da internet no final dos anos 80, os cabeamentos ligando continentes e lugares distantes voltaram com tudo — principalmente devido às incríveis velocidades de transmissão da fibra óptica. Hoje em dia, existem planos para aumentar ainda mais a velocidade de transmissão, uma vez que há novos cabos e fibras sendo desenvolvidos, além de serem cada vez maiores as distâncias cobertas pelos backbones e os intervalos entre um repetidor de sinal e outro.
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Fonte: Submarine Cable Map, How Stuff Works,The Guardian, TeleGeography, UOL, Scielo, The Guardian, Teleco, Quora